Vagando
por Paraty
Cultura Negra
Paraty, por ser uma cidade histórica cheia de religiosidades e marcos do mundo antigo, trouxe aos alunos presentes
ensinamentos sobre a cultura negra e a escravidão.
A escravidão em Paraty
Foto tirada pelo professor Alexandre Alves retratando um dos nossos colegas fazendo pose com um homem vestido de escravo
Ensinamentos foram absorvidos em diferentes fases da viagem. Dos diversos lugares que fomos, aprendemos um pouco sobre a escravidão que foi muito presente em Paraty, no passado, e que até hoje possui marcas dessa prática desumana.
Existiram dois motivos que levaram Paraty a ser um dos mais movimentados portos de desembarque de escravos africanos:
1) Paraty foi, durante muito tempo, o único ou mais rápido acesso do litoral para as cidades de MG e do Vale de Paraíba.
2) Por ser uma vila pequena, não havia fiscalização de autoridades civis - fato que facilitava muito a venda de escravos.
Quando o tráfico negreiro se expandiu para Paraty-mirim, o comércio foi tão intenso que a cidade foi levada à categoria de Paróquia, por decreto-provincial de 1836.
Por pressão dos ingleses, foi criada em 1830 a Lei Feijó que proibia o tráfico negreiro, e, mesmo não sendo levada a sério, os cafeicultores da região começaram a fazer um estoque de escravos, que passaram a ser desembarcados, clandestinamente, na cidade. No futuro a Lei Eusébio de Queiroz acabaria definitivamente com o tráfico e afetaria a economia do município.
Antes de todos esses marcos, Paraty era uma cidade que possuia tanta facilidade para obter escravos que foi toda construída utilizando a mão de obra destes. Foram os negros que moveram os engenhos de açúcar e os alambiques da região, as calçadas das ruas e as estradas das serras com pedras, eles desceram as montanhas com o café e o ouro, além de cuidarem das plantações e dos rios. Ou seja, os escravos formaram quase tudo o que vimos em nossa viagem.
Não só aprendemos sobre a escravidão na cidade, como também discutimos sobre a mesma na trilha do ouro - em que os escravos andavam quilômetros carregando pedras (para formar o caminho pelo qual andamos). No barco, à caminho do Mangue, ouvimos as histórias das ilhas que eram utilizadas pelos Potugueses e Fazendeiros da cidade para confinar os escravos e mantê-los presos, em péssimas condições.
O Candomblé
Nosso professor Wagner Santos falando sobre a religião do Candomblé
No dia do City Tour, aprendemos com o professor Wagner sobre o Candomblé: religião animista original africana que foi trazida à Paraty, junto com os negros escravizados e que lá se estabeleciam.
Nesta religião sacerdotes e adeptos encenam, em cerimônias públicas e privadas, uma convivência com forças da natureza e seus ancestrais.
É uma religião que se expressa muito na região de Paraty, por esta cidade ter sido palco de diversas comunidades negras e de escravos, no passado. Estes escravos passaram para frente seus ensinamentos e cultura que, até hoje, são muito presentes, em diversas regiões do país. Inclusive em algumas igrejas que vistamos, divindades do Candombé se misturavam, nos altares, com divindades cristãs.
Um antigo documento oficial da cidade (Registro das Posturas da Câmara da Villa de Paraty de 1829) dá uma ideia sobre as condições da vida dos escravos antigamente em relação à suas crenças:
Artigo 52: Os escravos que forem encontrados nas ruas e praças públicas a jogarem (candomblé) serão castigados na cadeia a arbítrio dos senhores.
Felizmente, apesar das dificuldades do passado, os africanos que vieram ao Brasil conseguiram passar para frente seus conhecimentos e crenças em relação ao Candomblé que cresceu muito na sociedade brasileira com o tempo.
Praticantes da religião do Candomblé
Conclusão
Com todas essas experiências chegamos à conclusão do quanto que é importante manter a cultura negra presente no Brasil e o quanto que esta influenciou na identidade de todos os brasileiros.
Identidade, sendo o conjunto de caracteres particulares que identificam uma pessoa como nome, aniversário, sexo, filiação, impressão digital, cultura, comunidade, meio social e personalidade própria.
Por termos toda essa influência dos negros em nossa história, música, cultura, culinária e religião devemos incessantemente lutar por sua manutenção e preservação, que muitas vezes pode ser ignorada em nosso meio de variedades culturais.