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Manguezal (Paraty Mirim)

      Manguezal é um bioma caracterizado geralmente por estar localizado em uma zona úmida, definido como “ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho, característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime das marés” (SCHAEFFER-NOVELLI, Y.Manguezal ecossistema entre a terra e o mar. São Paulo: Caribbean Ecological Research, 1995, p. 7). Além disso, recebe este nome por ter como vegetação predominante os mangues, espécie vegetal extremamente adaptada para sobrevivência neste ambiente.

ao lado, vista do leito do rio que alimenta o manguezal.

      Sendo um ecossistema intermediário e geralmente entre o nível do mar e altitudes mais elevadas, e assim estando sujeito às inundações por marés, os mangues se formam pelo acúmulo de sedimentos durante milhares de anos, tanto minereis quanto, em sua maioria, de matéria orgânica advinda de áreas próximas. Neste processo, há a formação de um ecossistema único, cuja principal característica é a presença de grande quantidade de matéria orgânica em decomposição, o que pode vir a geral malcheiro e assim uma visão ruim naqueles que visitam o espaço sem saberem da grande importância ecológica dos mangues, estuário de proteção de espécies encontradas apenas ali, e extremamente importantes como fonte de renda e sustento para diversas comunidades instaladas nos arredores dos manguezais.

o solo lodoso e rico emm matéria orgânica em decomposição característico do ecossistema.

      Os ambientes marinhos do litoral de Paraty se comportam como áreas de transição entre a terra e o mar. Do continente recebem toda a matéria orgânica proveniente da Serra do Mar, através do deságüe dos rios, e da produção dos manguezais. Do mar, recebem os nutrientes vindos das águas profundas do oceano durante o verão (ACAS), durante o inverno (frente fria) que afloram próximo a costa e penetram na Baía pelo canal entre a Ponta da Juatinga e a Ilha Grande, causando o fenômeno da ressurgência. O elevado índice pluviométrico anual somado à fisiografia da região, com inúmeras baías, enseadas e sacos, onde a circulação de água é restrita, fazem desta região uma dos ambientes aquáticos mais ricos em micro-nutrientes do Brasil. Estes fatos ocasionam uma constante turbidez das águas e a proliferação de organismos plantônicos que contém clorofila, como as diatomaceas e os dinoflagelados, caracterizando as águas com sua coloração esverdeada. (fonte: APA Cairuçu)

O Mangue

      Existem três principais espécies de mangues: mangue vermelho (Rhizophora mangle), mangue preto (Avicennia schaueriana) e mangue branco (Laguncularia racemosa), este último sendo o observado no manguezal visitado de Paraty Mirim. Essa relativa baixa diversidade se deve às condições desse ecossistema, pois poucas espécies conseguem sobreviver em ambientes com pouco \aoxigênio, alta concentração de sal e solo instável. Algumas das adaptações apresentadas pelos mangues são as raízes aéreas, que são adequadas para o solo pobre em oxigênio. Nos mangues pretos e brancos as raízes, chamadas pneumatóforos, emergem de baixo do sedimento em direção ao ar, e mesmo durante a maré cheia suas extremidades ficam expostas ao ar, permitindo assim as trocas gasosas. Já o mangue vermelho apresenta expansões no caule principal contendo lenticelas, que são pequenos orifícios por onde são feitas as trocas gasosas.

mangue vermelho (Rhizophora mangle)

mangue preto (Avicennia schaueriana)

mangue branco (Languncaria racemosa)

caule do mangue com lenticelas

      Além da flora adaptada, o manguezal conta também com uma fauna bastante característica, tendo como mais conhecidos os caranguejos. Na nossa visita ao manguezal de Paraty Mirim, pudemos observar espécies distintas: o Uçá (Ucides cordatus), facilmente encontrado em manguezais e conhecido pelo consumo de sua carne saborosa e nutritiva; e o Aratu (Goniopsis cruentata), também um caranguejo de mangue e muito encontrado nos troncos; além do marinheiro (Aratus pisoni), bastante semelhante ao aratu por suas características morfológicas, diferindo-se apenas pela coloração e tamanho.

uçá em posição de alerta/ameaça

caranguejo-uçá

filhote de aratú ainda coberto de lama do solo

Além dos caranguejos, pudemos observar também um molusco conhecido como teredo (Teredo sp.), um decompositor presente nos troncos dos mangues, e característico pelo grande poder de perfuração de madeiras submersas para alimentação própria e construção de suas colônias, além da formação de uma concha protetora muito resistente ao seu redor. Por serem bastante comuns em ambientes de mangue, terem sabor e consistência semelhantes a ostras e serem ricos em cálcio e ferro, o teredo constitui um alimento bastante comum nas culinárias paraense e amazónica, principalmente na ilha de Marajó e arredores, sendo também apreciado no Maranhão e no Amapá

ao lado, teredo e suas perfurações na madeira (foto: Google)

teredo

      Durante a visita ao manguezal de Paraty Mirim, foi possível percebermos como geralmente somos influenciados, por aspectos sensoriais num primeiro momento, a julgarmos algo sem nem termos conhecimento das origens daquilo ou de sua importância. Assim que chegamos ao mangue, era possível ouvir reclamações de todos os alunos, comentando do malcheiro e do ambiente desagradável. Porém, à medida que foram sendo esclarecidos acerca dos seres ali presentes (e puderam observá-los de perto) e das características únicas daquele ecossistema, a atmosfera mudou de incômodo para admiração, e na hora de ir embora foram muitos os alunos que expressaram sua vontade de estudar mais a fundo tal ambiente tão curioso e importante, mas também tão menosprezado.

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